O ouro (XAU/USD) opera em queda pelo segundo dia consecutivo, alcançando sua mínima desde o fim de junho e reforçando a percepção de continuidade da tendência baixista que se iniciou no início de maio, momento em que o ouro havia formado topo histórico no gráfico diário, muito impulsionado pelo cenário macroeconômico adverso que estimulava a busca por ativos com forte apelo monetário e características de reserva de valor. Antes de entrarmos na análise técnica do ativo, vamos à conjuntura econômica atual.

Antes de mais nada, vale mencionar, claro, que a recente valorização do dólar acabava sendo outro fator chave que prejudicava o preço do ouro.

O crescente entendimento de que o Federal Reserve (FED) manterá as taxas de juros mais altas por mais tempo continua sustentando os rendimentos dos títulos do Tesouro norte-americano e continua atuando como um vento favorável ao dólar. Assim, os participantes do mercado parecem convencidos de que o FED manterá sua postura hawkish e seguem precificando a possibilidade de mais um aumento de 0,25% até o fim de 2023.

Essa percepção é bastante reforçada pelos mais recentes dados macroeconômicos dos Estados Unidos, que sugeriram que a luta do banco central norte-americano para trazer a inflação de volta à meta de 2% está longe de ser vencida.

O índice de preços ao consumidor (CPI) da semana passada mostrou um aumento moderado nos preços em julho, enquanto o PPI subiu um pouco acima da expectativa e apoiou as perspectivas de um eventual aperto adicional do FED, elevando o rendimento do título do governo norte-americano de referência de 10 anos para uma máxima de 9 meses na segunda-feira, o que também reforça o dólar.

No entanto, se por um lado os elevados rendimentos dos títulos dos EUA parecem pressionar ainda mais o preço do ouro, que não rende juros, por outro, as preocupações com a saúde da economia global – em especial, da China – ajudam a limitar a queda.

Isso porque, tivemos dados decepcionantes da gigante asiática que mostraram que as vendas no varejo e a produção industrial cresceram menos do que o esperado em julho, sugerindo mais estímulos por parte da Nação do Dragão.

 

Momento atual e análise técnica:

Ontem, o ouro comemorava finalmente um recuo, ainda que sensível, no dólar americano.

Olhando para frente, as vendas no varejo dos EUA para julho, esperadas em 0,4% MoM frente os 0,2% anteriores, serão importantes para observar a direção momentânea da commodity diante das atas da reunião do FED marcada para hoje, quarta-feira. Isto, juntamente com os rendimentos dos títulos dos EUA, pode influenciar a dinâmica de preço do dólar e gerar algum ímpeto para o ouro, pelo menos no curto prazo.

Dito isso, o ouro seguia conseguindo se manter acima da marca de US$ 1.900, região que encontrava a confluência da média móvel simples de 200 períodos, onde esperava-se uma atuação como suporte.

Fonte: XAU/USD no tempo gráfico diário

O preço da commodity permanece bem abaixo da resistência chave de US$ 1.925, patamar que engloba tanto a média móvel simples de 50 períodos no gráfico de 4 horas quanto a região 38,2% de Fibonacci no semanal, 61,8% no diário (também conhecida como Golden Fibonacci Ratio) e a mínima da última semana.

Essa confluência restringe o potencial de alta do XAU/USD. Não à toa, nesta quarta-feira, o ouro segue caindo e perdendo a região dos US$ 1.900.

Aproveitando o gancho do gráfico de 4 horas, onde os ursos estão no controle, vemos também que o XAU/USD atingiu o pico do dia de ontem quando encontrou a resistência da média móvel simples de 20 períodos, como pode ser observado na imagem abaixo, claramente demonstrando a conotação baixista.

Ao mesmo tempo, a média móvel simples de 100 períodos está cruzando para baixo da de 200 períodos, ambas em torno de $1.941, enquanto os indicadores técnicos como o RSI ganham tração descendente em níveis negativos.

Fonte: XAU/USD no tempo gráfico de 4 horas

Em suma, caso o ativo termine esta quarta-feira realmente abaixo da média móvel simples de 200 períodos, patamar que vem sendo desafiado pela primeira vez este ano, diga-se de passagem, podemos fazer uma leitura integrada entre os fatores em conjunto indicando que o ouro pode estar bem ajustado para seguir em queda, podendo inclusive caminhar em direção aos US$ 1.893 vistos em junho.

Essa percepção é reforçada também pela leitura de indicadores técnicos como o RSI, apoiando a possibilidade de outra pernada de queda.